domingo, 9 de novembro de 2014

O Enigma de Luca

   Primeiro tudo estava escuro. Depois... Veio a tortura. 
   Parecia que meu corpo ia explodir, tudo doía, minha cabeça martelava, minha coluna queimava. Tentei mover os dedos, mas eu não tinha mais controle do meu corpo, eu não sabia quanto tempo havia passado, poderia ser apenas um segundo, ou uma total eternidade, a única coisa que eu sabia é que a agonia parecia não ter fim. E então, eu abri os olhos. 
   Quando você abre os olhos pela primeira vez numa manhã quente de verão, eles começam a doer. Eu abri os meus diretos pra refletor enorme de uma sala. Tudo girava e quando parou, meus olhos foram se acostumando. Primeiro eu vi as portas de vidro, depois o painel que media batimentos cardíacos, e depois eu olhei pros meus dedos repletos de fios. 
  - Ele acordou, venham! - Uma voz feminina gritou e um grupo de pessoas entrou correndo na sala. Uma enfermeira gorda com uma mono-selha se aproximou com uma seringa ameaçadora e começou a mexer em umas bolsas de soro. Um médico velho e baixinho com aparência alemã começou a mexer no painel; e um outro alto e moreno olhou pra mim com seriedade... E então eu notei que ele não era um médico, era um policial. Tinha os traços duros e sua expressão apesar de séria, emanava medo. 
   - Fique encostado - Falou o médico baixinho. E então se aproximou com uma espécie de lanterna e começou a mexer nos meu olhos, fez umas anotações e depois perguntou: Você consegue me entender?
   Eu não sabia o que responder, a ultima coisa que eu poderia dizer é que eu estava entendendo algo. Então o policial moreno olhou pra mim e falou:
   - Luca? - E retirou um bilhete do bolso, esperando que isso me lembra-se algo. Não funcionou. - Bem, seja como for... Você está em sérios problemas rapazinho. 
   - O que houve? Onde eu estou? Quem são vocês? O que são esses fios? Quem... - Minha cabeça girou ainda mais rápido. - Quem sou eu?
   - Esperávamos que você respondesse algumas perguntas. - Respondeu isso numa voz ainda mais grave. - Mas parece que nós que teremos que fazer isso. Descanse um pouco, você terá muito tempo pra conversar conosco. 
   E então eles começaram a sair da sala. Olhei para um televisão pequena erguida a uns dois metros e meu sangue congelou. Estava passando um noticiário, um helicóptero caiu num posto de gasolina e tudo havia explodido. Então aconteceu a coisa mais improvável do mundo. Das chamas saiu um garoto branco de cabelos pretos, de calça jeans e uma camisa roxa. Ele saiu cambaleando e sem sequer uma única queimadura, então ele desmaiou e as filmagens mudaram para o âncora comentando sobre o assunto. Eu não consegui ouvir o que ele dizia, aliás, nem teria prestado atenção, porque no reflexo da televisão, o garoto de camisa roxa, me encarava de uma cama de hospital.